Sobre o Sucesso do ADN

 Uma das maiores polémicas em torno da eleição de ontem esteve centrada na surpresa que foi o resultado da Alternativa Democrática Nacional. Este pequeno partido talvez tenha sido o verdadeiro vencedor da noite uma vez que conseguiu dez vezes mais votos em 2024 quando comparado com 2022. De 10 mil votos passou para 100 mil. Conseguiu pela primeira vez obter subvenção pública pelo seu resultado eleitoral e ainda conseguiu ter mais votos que o CDS sozinho na anterior eleição.

Duas grandes teorias surgiram para explicar este voto ou este crescimento era devido ao voto Evangélico:

Ou terá existido uma confusão entre o ADN e a coligação de centro direita Aliança Democrática, vulgo AD.

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Sendo os resultados encontrados pelo Pedro S. Martins bastante interessantes, estes não conseguem por si só desmentir a hipótese voto Evangélico. Felizmente é bastante fácil testar esta relação. Nos gráficos abaixo comparo a correlação de percentagem de população que se identifica como Evangélica ou Católica, de acordo com os Censos de 2021, e percentagem de voto no ADN por freguesia. Não parece existir nenhuma correlação entre concentração de Evangélicos e voto no ADN. Aliás, só em duas freguesias o ADN tem um resultado acima dos 4% e a percentagem de Evangélicos é superior a 5%. Do mesmo modo, parece que as freguesias onde mais se votou ADN são quase totalmente católicas. Como explicar isto?




 Talvez a hipótese religiosa não explique o desempenho do ADN. Talvez, se seguirmos a hipótese levantada por Pedro S. Martins, seja possível chegar a uma conclusão mais plausível. Pensemos numa visão bastante grosseira e preconceituosa do eleitor com menos informação política e que pode ter confundido AD e ADN. Provavelmente essa visão passa por um eleitor mais velho, provavelmente com menor educação e vivendo num lugar com menos população. Ora, os dois próximos gráficos demonstram que de facto parece existir uma correlação entre percentagem de população idosa ou número de residentes e voto no ADN. Quanto mais velha a população melhor o resultado do ADN. Quanto maior o número de residentes, pior o resultado do ADN. Aliás, é interessante ver que não há freguesias populosas onde o ADN tenha tido um resultado melhor que 2% (pontos que estariam no canto superior direito do gráfico direito).




 No entanto, quer nos casos de freguesias com mais população idosa, quer em casos de freguesias com menos residentes encontramos casos onde o ADN não teve grande sucesso. No gráfico da esquerda, encontramos vários pontos no canto inferior direito, isto é freguesias mais envelhecidas mas onde o ADN não conseguiu muitos votos. Por outro lado, no gráfico da direita, temos várias freguesias com pouca população e onde o ADN não foi bem sucedido, ou seja pontos no canto inferior esquerdo. Será que podemos tentar encontrar uma razão que nos ajude a perceber melhor esta relação?


Pedro S. Martins avançou a hipótese bastante plausível que a posição relativa no boletim de voto poderia explicar esta diferença. Como em cada Distrito/Região Autónoma a ordem no boletim é sorteada, se compararmos nos distritos onde a AD aparece primeiro que o ADN, talvez encontremos menos erros. Se pensarmos mais uma vez na nossa visão preconceituosa do eleitor desinformado, este até poderia saber que deveria procurar a sigla AD para votar no PSD. Mas não sabendo que existia um ADN, poderia colocar a sua cruz na primeira caixa que aparecesse entre os dois. No gráfico abaixo eu simplesmente multipliquei a diferença da posição da AD em relação a ADN em cada boletim de voto com a percentagem de população idosa por cada freguesia. Ora não só a correlação fica mais forte com este novo dado, como vemos algo de interessante no canto superior direito do gráfico. Nas cinco freguesias onde o ADN teve mais de 6% dos votos, existe a combinação de população idosa e o ADN aprecia bastante antes no boletim de voto.


Concluindo, parece que a hipótese do erro explica melhor o voto no ADN do que o voto Evangélico. Isto não significa que não exista uma parte significativa da população Evangélica a votar no ADN, isso não podemos ver nestes dados. Apenas que não parece ser esse o voto que explica o sucesso do ADN. Provavelmente nunca iremos saber com toda a certeza uma vez que as pessoas que se enganaram elas próprias não sabem que o fizeram.


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